9 de março de 2007
O Homem que padeceu sobre as lembranças!

Sentou-se no chão, no canto do quarto, como uma criança acuada e com medo do escuro.
Mas não era medo, era ausência! Uma ausência confinada á uma áspera lembrança de dias que se passaram sob uma perversa inquietação.
Sentia-se infeliz, mas não tinha pena de si mesmo. No fundo, sabia que tudo o que acontecera, fora sua responsabilidade.
Sempre trocava os pés pelas mãos, não conseguia fazer nada direito. Nem mesmo lidar com um sentimento tão simples ou resolver pequenas divergências do dia-a-dia.
Sabia que precisava se acostumar com o silencio naquele quarto escuro, em diminuir a porção de café e a quantidade de pão. Nunca mais ouviria aquele cd de capa branca e nunca mais assistiria aquela comédia romântica...
Também já tinha decidido nunca mais comprar aquele iogurte de fibras que nunca soube pra que servia.

Nunca soube como aliviar as culpas do peito, nunca tentou reerguer-se, recomeçar, tentar mais uma vez...
Acomodou-se!
E agora, sozinho, sentia o quanto isso lhe custava.
Chorou, mas era tarde, muito tarde!
Tanta ausência, tanto vazio e solidão, consumiam-lhe a alma.

Levantou-se e foi até a janela – era um eclipse!
“De certo que todos comentarão e tirarão fotos” – pensou
Aos poucos, o calor de seu corpo dissipava-se á luz da lua. Sentia como se o sangue fosse parar de circular em suas veias a qualquer momento.
“Estou só! Completamente só! Não há ninguém que me faça companhia e que me ouça chorar... que seja esta noite uma alvorada” – pensou, parafraseando o poeta

Já não suportava ficar de pé. Sentou-se aos pés da cama, de frente para a janela, de onde podia continuar observando o eclipse.
A lembrança daquele sorriso lhe aparecia com o pulsar de cada soluço.
Já não pensava em rezar, pedir ajuda aos santos ou deuses e nem ao menos a quem lhe causava esses sentimentos decadentes e mortíferos – decidira assumir todas as culpas, inclusive as que não lhe pertenciam.
Contemplou o re-surgimento da lua, mais brilhante, reluzente e nua.
“Como me sinto vazio... se eu soubesse disso antes... ahh se eu soubesse...” – resmungou

Se soubesse antes, não teria cultivado tanta dor, não teria anulado culpas, não teria sangrado tanto.
Voltaria no tempo se pudesse, desceria ao Hades, engoliria todas as lagrimas e a trazia de volta em seus braços. Percorreria os caminhos tortuosos ainda que descalço com espinhos sob os pés e mudaria os rumos da história, faria do inverno primavera e quem sabe, reascenderia a sorrir.
Mas não havia mais tempo...

Estava cansado
Cansado e sujo. Nas unhas ainda jazia a terra que usou para aterrar mágoas e o cheiro ocre dos dias malditos e fétidos.
Sentia vontade de suplicar por perdão, suplicar até ter de volta o que perdera, até ser ouvido, até perder a voz... mas julgava inútil – não quis nem ao menos tentar.
Sentia a vida esvair-se por entre seus dedos e não sentia o desejo ardente de conte-la
Apenas observava seu fluxo, como se fosse natural e esperado que assim acontecesse.
Era um anúncio do fim...

Adormeceu moribundo em meio ás lágrimas e soluços quase escassos, com o peito quase rasgado de dor, a pele lanhada pela angústia.
Dor desgraçada, deveras cruel.

Padeceu sobre as lembranças!



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Ps:
Achei que vocês fossem mais antenados em música
Tcs tcs.. que fiasco o post passado, heim
rsrsrsss

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