Se você quer que eu confesse, sim eu direi-te tudo o quanto me angustia, e não é de amor que falo! Angustia-me contar os dias lentos em que me apresso para apagar-te do meu coração! A cada dia que passo, corroendo a ferida das tuas palavras, cruéis como facas, atiradas da precisão com que as disparavas, indiferente de seu alvo... E acertava, uma a uma, em minhas mãos, em meus olhos, no meu peito desangrado deste amor abominável, doente e mórbido que eu insistia em cultivar! Ervas daninhas em meu jardim de rosas! Me consola admitir a destreza que desenvolvi de me desfazer de tudo o quanto fosse teu, que lembrasse você, que parecesse ou até mesmo que fosse você! Esqueci do ultimo encontro, apaguei teu ultimo telefonema, ensurdeci a tua voz e amordacei tuas palavras... De repente, que susto, me perguntei quem era você!
Hoje é a ultima vez!
Ultima vez que falo em você! Ultima vez teu nome em minha boca, tua lembrança em meu peito, tuas palavras em minhas lembranças...
Depois disto, nunca mais!
Nunca mais essa luz turva que fingia me iluminar, que me confundia, que me cansava a vista...
Nunca mais carrego tua dor em meu colo, tuas lágrimas em meus braços, teu sorriso em caminhos distantes...
A lua que era minha se perdeu desta órbita secreta que em que você a escravizava!
Começo a caminhar sem que você me leve pelas mãos – já reaprendi a andar com meus pés e não com seus passos!
Não sei mais de você, e embora tua ausência ainda me sufoque nos dias, tenho gostado muito de não saber por onde andas! E sei que meu tempo, agora é todo meu!
As canções que ouço, já não me falam de você
A chuva que canta no telhado, já não me traz o resto do teu temporal,
A noite que cai ligeira, já não traz o eco surdo dos teus passos nas esquinas que cercam minha casa!
Por todas as vezes que você desfez tudo que eu fiz de bom,
Por todas as vezes que você preferiu não me olhar por mais que eu ficasse na tua frente,
Por cada palavra que você fingiu que não ouviu e por cada palavra que deverias ter dito e silenciou...
Vou fingir que esses dias que passam, e que luto para apagar você de mim, já passaram por mim, e eu nem percebi!
Se queres saber, sim! Já te esqueci!
O que faço hoje, apenas e somente, é apagar os vestígios, os restos, as sobras...
Depois disto, nunca mais!
Nunca mais você!!!
Marcadores: No Âmago